1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 28
De igual maneira, o regime militar foi derrotado nas eleições
de 1982, quando a oposição elegeu a maioria dos governadores
(entre os quais se destacavam Brizola, no Rio; Franco Montoro, em
São Paulo; Tancredo Neves, em Minas, e outros democratas na
maioria dos estados do Sul). E a partir dali surgiram grandes manifestações, imensa mobilização de pessoas, por todo o país. Como se
analisava, naquele então, a política de abertura lenta, segura e
gradual do ditador Geisel – tentativa de refrear algo cuja tendência
se revelava vir sem muito controle – era um prenúncio da vitória.
Exemplo disso foi a bandeira da anistia. Quando o ditador João
Batista Figueiredo assumiu, não se falava nem se admitia promovê-la. E muito rapidamente, mesmo não sendo ampla, geral e irrestrita, foi obrigado a sancioná-la.
Dentro da mesma linha de denúncia da ilegitimidade de um
governo imposto pela força, explodiu, em 1984, a campanha das
Diretas-Já. A população saiu às ruas, em multidões, para reivindicar eleições diretas para presidente, ocupando principalmente
as grandes cidades do país. Quem muito cresceu nos palanques
desse movimento, algo de fundamental importância, foi o
processo democrático em geral, já que se cristalizou nos brasileiros a necessidade das liberdades. Ali se tornou irrefreável toda e
qualquer solução fora da retomada do processo democrático.
Tanto é verdade que mesmo aqueles que eram refratários a uma
alternativa, por exemplo, via Colégio Eleitoral, não tiveram mais
como sustentar suas posições. Ou seja, a ditadura não tinha mais
como se reproduzir, mesmo com o Colégio Eleitoral, apesar de,
em principio, ela ter maioria ampla nele e a oposição não ser mais
que um mero coadjuvante.
Mesmo com as gigantescas manifestações populares em
favor das Diretas Já – sem dúvida o ponto alto da luta de massas
contra o regime – o ditador e seus asseclas ainda achavam que
iriam controlar a sucessão presidencial. Só que foi irrefreável
aquela mobilização das ruas. Mesmo com alguns setores minoritários da esquerda se ausentando do processo, fizemos uma grande
aliança com alguns setores que nunca foram oposição, mas que, na
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1964 – As armas da política e a ilusão armada