1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 25
mente, após a primeira grande safra de vitórias da oposição que
foi, indiscutivelmente, nas eleições de 1974, quando o regime foi
duramente derrotado nas urnas (de 21 vagas em disputa no Senado
Federal, o MDB conquistara 16), e com lideranças expressivas que
apareceram (Marcos Freire, Alencar Furtado, Franco Montoro,
Tancredo Neves, Ulysses Guimarães etc.).
Naquele então, o governo ditatorial, talvez pressionado
pelo seu setor mais à direita, reagiu da forma mais autocrática
possível, até fechar o Congresso, que discutia uma reforma do
Judiciário. Mas não era por isso, evidentemente, mas para tentar
dar uma sobrevida ao regime. Implantou-se o chamado “pacote
de abril”, grande retrocesso por meio do qual se criou o senador
biônico, o voto vinculado, como uma forma de ganhar a maioria
dos governadores.
Documentos de serviços de inteligência e de repressão da
ditadura e de organismos das Forças Armadas, trazidos a público,
que foram objeto de matéria na imprensa brasileira e serviram
como fonte da magistral obra de Elio Gaspari, dizem bem o que
foi essa dramática realidade. Revelam, sobretudo, que a grande
preocupação do regime militar, no início da década de 70, não
eram as ações armadas nem a guerrilha, então já neutralizadas,
mas o “trabalho de massa, segundo a tática sempre advogada e
empregada pelo PCB”. Reconhecia-se que o Partidão era o principal inimigo do regime mesmo sendo contra a luta armada até
porque essa estava derrotada e o cuidado passava a ser com a luta
institucional dos comunistas infiltrados no MDB. Era uma declaração de guerra do sistema de repressão contra nós, visando,
pura e simplesmente, liquidar o PCB. Daí terem sido criados dois
grupos ultrassecretos, formados por várias pessoas, quase todas
militares e de patente de oficiais, autorizadas a matar e a sumir
com os corpos dos comunistas.
De fato, incentivado pelas mãos do general Sílvio Frota, o
terror voltou a mostrar suas garras. Em 1974 e 1975, em todo o
país, foram presos cerca de três mil militantes do PCB e assassinados 11 dirigentes do Comitê Central, integrantes da chamada lista
A defesa intransigente da democracia
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