1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 214

nazista –, isso acabou influenciando a nossa própria Lei de Segurança Nacional. Isso se deu em 1936, com a aprovação do Congresso. Nós, comunistas, éramos os inimigos internos. Pela lógica deles, nós poderíamos ser mortos. O preso político condenado por essa lei cumpria a pena toda, até o fim. E depois não houve reintegração, no caso dos militares insurretos, que tinham sido presos e condenados. Na realidade, foi feito um longo trabalho para convencer os oficiais de que aqueles políticos tinham se transformado em inimigos passíveis de enquadramento na Lei de Segurança Nacional. Esse clima de nos tratar como inimigos internos ressurgiu durante a fase da luta armada contra o regime militar de 64. Aqueles atentados em São Paulo e no Recife nos preocuparam muito. Nós conhecíamos essa lógica. E a direção do PCB começou a ver com muita preocupação as ações do companheiro Carlos Marighella, por exemplo. Logo nos primeiros dias do Golpe, eu me recordo que tive um “ponto”2 com Salomão Malina na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, que, por ser muito movimentado, era muito utilizado por nós. Pois bem. Nesse dia, nós avistamos Marighella na rua e Malina comentou comigo que ele estava fora de órbita, com a cabeça no ar, uma vez que pensava ainda ser possível organizar uma resistência nos quartéis para derrubar o Golpe. Ora, àquela altura, a situação já estava sob controle, senão consolidada. Eles já tinham prendido ou afastado quem eles queriam... É preciso ver que desde 1961, pelo menos, eles já estavam preparando o assalto ao poder. As divisões entre nós foram se acentuando até a ruptura definitiva no VI Congresso, em 1967. Eu não participei diretamente desse histórico encontro. Eu até ia dele participar. O meu trabalho era pegar nos pontos os companheiros dos diversos estados que vinham para a mais clandestina das reuniões. Quando terminasse de passar a última leva desse pessoal – eu os entregava para o Dinarco Reis levá-los até o local do Congresso, realizado sob rigorosa clandestinidade – e eu mesmo deveria ir para o local do 2 Gíria usada pelos comunistas que significava encontro marcado entre duas pessoas que viviam e atuavam clandestinamente. 212 1964 – As armas da política e a ilusão armada