1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 189
A rota oriental do PCB, como se sabe, compreendeu a defesa
do voto em branco em 1950, a adoção da palavra de ordem “derrubar
o governo”, o grevismo, a construção de “sindicatos paralelos”, com
o consequente afastamento da massa operária, o recurso a práticas
divisionistas em todas as suas frentes de atuação, o delineamento de
uma concepção militarista do partido, entendido como organização
de assalto ao poder e, por fim, a explicitação da fórmula nacional-libertadora, presente no Manifesto de Agosto de 1950, como síntese
da sua política classista de preparação para a investida militar de
massa contra o Estado semifeudal e semicolonial do Brasil.
Com tal política, indiferente à complexidade da formação
econômico-social brasileira, o PCB assiste à desorganização de sua
rede de militantes, tanto nos sindicatos como nos bairros, e o abandono em massa do partido. E se a sua historia não cessou ali foi
porque aspectos contraditórios de sua atuação – como a participação na luta pelo monopólio estatal do petróleo ou a adesão à grande
greve operária de 1953, liderada pelo PTB – lhe conferiram sobrevida. Tal fato, contudo, não se fez acompanhar de uma crítica
contundente à linha geral do Manifesto de Agosto, à sua perspectiva
de assalto militar ao Estado, definido como estrito representante do
imperialismo norte-americano e de seus agentes internos.
Questão nacional e questão democrática
O suicídio de Getúlio Vargas convenceu os comunistas da
importância da democracia para o avanço da luta nacional. Isso
explica porque o PCB, embora mantendo o Oriente em perspectiva e
aferrado à doutrina da “revolução nacional-libertadora”, agiu
pautado, crescentemente, pelo Ocidente, como na questão do apoio a
JK nas eleições de 1955, contrariando a resolução do voto em branco.
O partido agia pragmaticamente: a democracia e suas instituições eram assumidas apenas em seu valor instrumental, como
um momento de acumulação de forças, algo de que os comunistas
deveriam se livrar ao soar a hora da revolução operário-camponesa. Mas o fato é que a esquizofrenia expressa no dogmatismo
Breve história do ‘comunismo democrático’ no Brasil
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