1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 178
horizonte. Recorde-se, por exemplo, que, dois meses antes do
golpe, a direção do PCB declarou que esse partido situava-se como
“oposição ao governo de Goulart”, argumentando que este desenvolvia uma política de conciliação com setores políticos não
comprometidos com as reformas.
Resumindo, por diversas razões, não havia a menor possibilidade de se obter no Congresso a aprovação das medidas solicitadas
por Jango. Em consequência, pairava no ar a suspeita de que o governo
acabaria por intentar um golpe de Estado, a fim de impor “na marra”,
conforme se dizia, as reformas de base e mudanças constitucionais
relacionadas com a eleição do futuro presidente da República.
Mas o que selou, em definitivo, a nossa derrocada foi um dado
crucial na vida política brasileira – o encaminhamento da sucessão
presidencial, que deveria acontecer em 1965. Como as correntes
políticas se colocaram nessa questão? O governo Goulart via aproximar-se a hora da sucessão e não estava preparado para enfrentá-la.
Não dispunha de candidato capaz de derrotar Carlos Lacerda. As
forças populares vetavam o candidato do PSD (Juscelino Kubitschek), por considerar sua eleição como um retrocesso inconcebível.
Brizola era inelegível e muito radical para diversas forças que
compunham o governo. O mais grave, porém, foi o entendimento
surgido, que a melhor solução seria a tentativa de reeleger-se João
Goulart, o que não era permitido por normas constitucionais.
Assim, a nau da insensatez continuou a marcha para o desastre total. Sucedeu tudo o que poderia acontecer para desgastar e
isolar o governo de Jango: em 1963, a inflação se transformou em
hiperinflação e houve um decréscimo do produto nacional per
capita; os Estados Unidos começaram a estimular o golpe de
Estado; houve também uma despudorada campanha contra o
governo constitucional nos meios de comunicação, ofensiva financiada por empresas estrangeiras. Devido a essas atividades, nossos
adversários obtiveram o apoio de amplos setores da população,
assustados com a violenta pregação anticomunista, acionada por
destacadas personalidades católicas. Enfim, todas correntes reacio-
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1964 – As armas da política e a ilusão armada