1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 176
Esse entendimento incorreto era reforçado por dois argumentos. Primeiro, que existia nas forças armadas um forte
“esquema de oficiais nacionalistas” e que, em segundo lugar, o
movimento dos sargentos era um obstáculo ao desencadeamento
de um golpe. Ademais, exageravam-se os avanços da organização
sindical e de sua capacidade de paralisar o país na eventualidade
de um golpe militar.
Além de lançarmos essa apreciação sobre o quadro militar,
que tão só estava alicerçada em nossos desejos e sonhos, incorremos também no erro de não reconhecer que a vitória sobre a cúpula
militar fora alcançada, em 1961, porque então defendíamos a
exigência do respeito às normas constitucionais, porque naquela
oportunidade desfraldamos com firmeza a bandeira da democracia. Não acentuamos também que o fracasso dos golpistas, naquele
episódio, basicamente decorreu da divisão dentro das forças armadas, mas que esta ruptura na cadeia de comando militar se devia à
pressão da opinião pública em favor da legalidade.
Com a posse de João Goulart no Palácio do Planalto, passamos a viver uma situação inédita no Brasil, pois assumiu a Presidência da República uma personalidade ligada às correntes populares e aos meios sindicais, e que dialogava abertamente com os
comunistas. Panorama que resultava, em grande medida, de um
fato inesperado, o gesto tresloucado da renúncia de Jânio Quadros,
mas que era determinado também pela ascensão vigorosa das lutas
populares e de um impressionante processo de organização dos
trabalhadores como, até então, nunca sucedera no país.
Em sendo assim, como não podia deixar de ser, esse cenário
inédito turvou nossos juízos. De certa forma, houve uma embriaguez causada pelo capitoso vinho da vitória.
Assim chegamos à antevéspera do golpe. No curso de 1963,
defrontamos um cenário ambivalente, complexo e contraditório.
De um lado, os resultados do plebiscito, para decidir sobre a vigência ou não do parlamentarismo, nos favoreceram, mas eram mais
ou menos previstos, porque a opinião majoritária dos brasileiros
174
1964 – As armas da política e a ilusão armada