1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 164
Ao se defrontarem com o problema da transição, Brasil e
Chile já não eram mais o que haviam sido, seja porque as políticas
econômicas neoliberais revolucionaram o todo social, no caso
chileno, decapitando a experiência modernizadora precedente,
seja porque os passos incisivos da modernização conservadora
estabelecidos pelos militares brasileiros a levaram ao paroxismo.
Para fazer frente à “revolução” conduzida pelos militares, o desafio
da transição no Brasil no Chile apontava para uma determinada
ruptura democrática, revolucionária e pactada simultaneamente.
Uma estratégia dessa natureza poderia levar ao estabelecimento
de uma democracia entendida como sistema e como processo, e só
nesse sentido entendida como um fim em si mesmo. A política da
transição deveria chamar para si a noção de consenso democrático, não apenas procedural, que envolvesse uma nova estratégia
de desenvolvimento e um novo modelo de relações sociais, muito
mais profundo do que o acordo em torno das regras do jogo. No
Brasil e no Chile havia-se chegado a pontos culminantes: no
primeiro, pela hipertrofia e exacerbação da modernização conservadora e, no segundo, pela radicalização na implantação do neoliberalismo. Mas em ambos se havia liberado o mundo dos interesses de cima a baixo do tecido social. Nesses casos, a transição
guardava a expectativa de construção de uma nova democracia ou
de uma democracia de novo tipo, que iria requerer não apenas a
garantia das instituições democráticas, mas uma estratégia específica de reformas que rompesse com a modernização conservadora,
no caso brasileiro, e com as estruturas do neoliberalismo, no caso
chileno. Todavia, sabemos que se isso não ocorreu em sua integralidade, em nenhum dos dois países aqui comparados, os processos
de transição e de democratização promoveram mudanças e produziram conquistas que não podem ser desconsideradas.
No Brasil, gradativamente, cada eleição parlamentar, desde
1974, seria transformada num plebiscito contra o regime autoritário, fazendo emergir a força da oposição, o que levaria o processo de
transição a conseguir ultrapassar o projeto de abertura ou contrarreforma do regime (VIANNA, 1984), cujo ápice foi a conhecida
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1964 – As armas da política e a ilusão armada