1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 152

Para além da menção a este breve contato pessoal entre dois presidentes da República, apeados do poder por golpes de Estado, a história registra diversas relações, inclusive pessoais, entre dirigentes políticos do Brasil e do Chile, que não seria o caso de mencioná-las aqui. Apenas a título de exemplo pode-se lembrar o fato de que boa parte dos exilados políticos brasileiros encontraria asilo no Chile de Allende, no início da década de 1970, fugindo da intensa repressão que se abateu sobre os opositores ao regime militar no Brasil após a decretação do Ato Institucional Nº 5 (AI5), em dezembro de 1968. Quando sobreveio o golpe de Estado de 1973, esses brasileiros tiveram que enfrentar um segundo exílio ao serem forçados a sair do país (AGGIO, 2008, p. 98-107). Os dois golpes de Estado – de abril de 1964 no Brasil e de setembro de 1973 no Chile –, foram diferentes em muitos pontos. Entretanto, pode-se dizer que hoje já existem alguns consensos a respeito da presença norte-americana em ambos os acontecimentos, assim como o reconhecimento de que essa presença não se configurou como determinante diante da espiral de contradições internas. Há também reconhecimento quanto ao fato de que ambos os golpes poderiam ter sido evitados, caso os atores políticos tivessem outro comportamento ou estivessem embasados numa cultura política democrática mais sólida e historicamente consolidada. História política comparada Antes de iniciar a reflexão sugerida de se comparar Brasil e Chile a partir dos golpes de Estado e do que se seguiu, gostaria de fazer alguns esclarecimentos sobre os eixos e o andamento dessa exposição. Ainda que não haja aqui a intenção de elaborar uma espécie de “tratado teórico” a respeito dos dois enfoques analíticos que serão mobilizados, seria proveitoso que eles fossem sumariamente delineados. O p &