1964 As armas da política e a ilusão armada | Page 100

ressoa ainda mais forte as célebres palavras de Marx no Dezoito Brumário de Luís Bonaparte: “A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. Os “espíritos do passado” têm sido recorrentemente convocados nos diferentes momentos de nossa história. Ora para que se honrem os heróis e ora para que se aprisione o futuro. Mas o passado, apesar de nunca acabar, é um todo complexo. É História. Nunca retorna, mas sempre dialogamos com ele. Mostra-se carregado de virtudes e defeitos, de heroísmo e tragédia, de erros e acertos. Deixa marcas, pegadas, traços, glórias e feridas. O passado pesa, dificulta, desafia, protege e identifica. Temos, pois, de saber assimilá-lo e incorporá-lo à experiência. Se quisermos seguir em frente e construir o futuro, não podemos “tirar nossa poesia do passado”; precisamos nos “despojar de toda a veneração supersticiosa do passado” e “deixar que os mortos enterrem seus mortos”, para continuar parafraseando o texto de Marx. Entre muitas outras coisas, isso pode significar: busquemos a verdade histórica, a verdade dos fatos, para que se estabeleça uma relação inteligente com o passado e, com base nisso, se interaja melhor com o presente. “Se escrever história significa fazer história do presente – escreveu Gramsci –, é grande livro de história aquele que, n