11º1 Edição Única | Page 19

Parece ser coincidência que o ser humano, assim como todas as formas de vida conhecidas até à atualidade, coexistam todas num lugar tão vasto, mas tão pequeno. Quais as probabilidades de isto ter acontecido? Por que razão as coisas funcionam de certo modo, e não de outro? Qual o objetivo da nossa passagem terráquea, sendo que estamos limitados a algo tão simples e instintivo, mas tão difícil de explicar na totalidade, como o espaço e o tempo? Desde os nossos antepassados mais primordiais que este vasto oceano de questões atinge o nosso pensamento, deixando-nos um sentimento de vazio e insegurança por dentro. Acredita-se que tenha sido esta a motivação responsável para a existência da religião e da fé, como forma de justificar o aparentemente injustificável.

Mas e se de facto existe um ser-todo-poderoso e sabedor de todas as coisas? A verdade é que até à atualidade ainda não encontramos evidências que isto seja possível, mas não há nada que negue esta possibilidade. Várias teorias e argumentos foram apresentados com a finalidade de tentar resolver esta mesma questão, mas continuamos sempre com uma resposta incompleta. Tudo o que nos rodeia está tão perfeitamente coordenado e interligado que nos parece implausível achar que tudo tenha sido obra do acaso. Foi necessário haver uma intervenção divina, por ventura. Seria uma das formas de explicar a finalidade do Homem neste planeta, ou a série de relações de causa-efeito que se verificam num sentido infinito, que, no entanto, começaram num determinado ponto no passado.

Contudo, com os contributos da filosofia e de todas as outras ciências, chegamos a um patamar de conhecimento e compreensão de fenómenos jamais imaginado, descoberto na pequena oficina do pensamento humano - o cérebro - com uma única ferramenta - a razão. Este poder tão grandioso, desconhecido até então, induz um pressentimento de que é possível ir mais longe, e que o nosso alcance abrange toda a existência.

No entanto, quando acreditamos estar a chegar a algum lado, somos surpreendidos pelo sentido inexplicável dos acontecimentos da nossa vida. E é precisamente nestes momentos que nada nos parece fazer sentido. Por vezes, abrem-se “exceções” à nossa compreensão, isto é, há fenómenos que acontecem e que apresentam uma suposta explicação, mas que não são possíveis de aclarar. No ramo da medicina, por exemplo, quando há uma forte melhoria no estado de saúde de uma pessoa que já se dava como morta, ou, antagonicamente, quando um tumor maligno que se esmorecia no corpo de uma pobre criança, e que sem explicação possível, rouba todas as forças da mesma num instante. A ocorrência de milagres será sempre bem-vinda pela humanidade, mas faz-nos confusão a existência de fenómenos negativos que, por estarem fora do nosso controlo, magoam-nos sofridamente.

O mal provocado pelo erro humano em nada pode ser comparado ao mal sem sentido (doenças fatais nada influenciadas pelas nossas ações, por exemplo). Até ao momento, a razão não apresenta explicação para a existência de males sem sentido, e a conceção de Deus pode ser esbatida pelo facto de, tendo as características que tem (omnipotente, omnisciente, bondoso...), não impedir a instalação do mal no nosso mundo.

Tendo tudo isto em conta e após muito refletir, expresso o meu pensamento da seguinte forma: posso não saber para onde vou, posso não conhecer tudo o que há para conhecer, posso estar limitado num certo espaço e tempo, posso não entender o mal, posso não saber para que fui concebido, posso não saber qual o sentido de toda a existência, mas sei que no tempo biológico que me for permitido viver, tenho de fazer com que a minha vida faça sentido, e que é apenas ultrapassando todos os males impostos que posso percorrer um caminho em direção ao sentido do Eu.

Rodrigo A.