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Sociedade

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O estigma continua

Apesar dos avanços na medicina nessas últimas quatro décadas, o estigma permanece, o que contribui para o aumento da epidemia. As pesquisas relacionadas ao vírus já evoluíram muito desde a década de 80 e, com o sucesso de medicamentos antirretrovirais, uma doença que antes matava com tanta violência, tornou-se uma condição administrável. Até mesmo as Nações Unidas criou uma campanha dedicada ao fim da transmissão do HIV até 2030. No entanto, mesmo com todas as evoluções, ainda há uma forte discriminação ao redor do vírus e dos atingidos por ele.

“Quem vive com o vírus enfrenta algo mais devastador: a intolerância de uma sociedade cuja mentalidade em relação à SIDA ainda não evoluiu”, diz o jornalista brasileiro Nathan Fernandes para a revista Galileu. O erro de associar o vírus a comunidade LGBT vem carregado de um preconceito muito comum entre aqueles que não estudam o assunto, ficando com uma análise superficial e preconceituosa dos números.

Segundo a Avert, organização global de HIV e SIDA baseada no Reino Unido, o estigma relacionado ao HIV “manifesta-se de diferentes formas em diferentes países, comunidades, grupos religiosos e indivíduos”, geralmente é “direcionada a homossexuais, usuários de droga e trabalhadores do sexo”. O estigma enfrentado por estes grupos resulta em um distanciamento para as margens da sociedade, onde pobreza e medo tornam o acesso ao sistema de saúde e os serviços disponíveis na prevenção e tratamentos ao HIV mais difícil. 

o estigma relacionado ao HIV “manifesta-se de diferentes formas em diferentes países, comunidades, grupos religiosos e indivíduos”

A vergonha, desde a década de 80, sempre rodeou as famílias dos que eram acamados com a doença. Eram criadas mentiras admitindo que a fatalidade deu-se devido a um câncer ou pneumonia e mantendo estas histórias até os dias de hoje. “O estigma e o medo da SIDA eram tão grandes que as famílias poderiam ir ao funeral, velório e por décadas de luto sem falarem o que realmente aconteceu”, diz Davis ao The Guardian. 

Referindo-se a um artigo para a o site brasileiro Viva Bem, o médico infectologista Rico Vasconcelos analisa: “se um subgrupo é historicamente mais impactado por uma epidemia, a ausência de uma abordagem individualizada para ele que trate da educação, prevenção, testagem e tratamento dessa doença, por parte das autoridades de saúde pública, é por si só um fator impulsionar do crescimento dos casos”. Em países marcados pela LGBTfobia, os números da epidemia de HIV não melhoram entre os gays, mas, é possível observar como na Austrália e no Reino Unido, países menos LGBTfóbicos, os números diminuem cada vez mais. 

Numa pesquisa realizada pelo Governo Ocidental da Austrália (WA Health), houve uma queda de 51% de casos infecção entre os homens que se relacionaram sexualmente com outros homens quando comparado aos cinco anos anteriores. Já entre homens heterossexuais, houve um aumento de 21%. Esta foi a primeira vez que aconteceu desde o início da crise do HIV/SIDA nos anos 80.

Em países marcados pela LGBTfobia, os números da epidemia de HIV não melhoram entre os gays

No Brasil, não foi até muito recentemente, no histórico dia 8 de maio de 2020, que o Supremo Tribunal Nacional derrubou a restrição que proibia homossexuais de doarem sangue. Com o tema já em julgamento desde o início de 2017, três anos depois e em meio a pandemia do coronavírus que levou os hemocentros de todo o país a níveis de doação muito baixos, a medida foi revisitada e, antes tarde do que nunca, finalmente liberada. 

Em Portugal, apesar de quatro anos após a publicação da norma sustentada pela lei que removeu dos critérios de inclusão e exclusão de doadores homens que fazem sexo com homens, ainda é noticiado pessoas que foram impedidas de doar sangue.

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