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Sociedade

Pontivírgula

americanos e que de alguma forma escapara do laboratório (qualquer semelhança com a atualidade não é mera coincidência). 

É ao longo dos cinco episódios que observamos os personagens atravessarem os anos 80, enfrentando medos e situações que nunca esperariam viver, a medida que presenciam amigos e companheiros serem levados pela doença. Também conseguimos entender melhor como a comunidade LGBTQ+ estava a percorrer às cegas este percurso assombroso, ao mesmo tempo que era obrigado a lidar com a hostilidade e indiferença do resto do mundo. 

Infelizmente, não são todos os personagens que sobrevivem. It’s a Sin é uma série fiel à realidade vivida por aqueles que enfrentaram a doença ou aos que observaram a crueldade com que ela tirava a vida de quem amavam.

Ativismo

O drama nos mostra como a marginalização da população homossexual no Reino Unido, tanto no ambiente familiar como na vida fora do conforto doméstico, e a recusa de aceitar que estas vidas também eram essenciais, cruciais e valiosas foi umas das causas do terrível impacto que a SIDA teve no mundo.  

Como diz o próprio escritor da série ao The Guardian, “a história é escrita por ativistas” e, enquanto o vírus tomava a vida de muitos, o movimento ativista do HIV surgia. 

A produção não deixou de retratar este importante momento. Em uma sociedade indiferente àqueles que não seguiam os moldes estabelecidos pela heteronormatividade, os gays eram vistos como vetores que carregavam uma doença desconhecida, eram ignorados e muitas vezes seus destinos julgados como forma de castigo que a natureza criou para os aniquilar. Como Davis admite, “parecia que [a doença] estava sendo direcionada a nós”. Não poderia haver pior punição: uma sociedade que já os ignorava, agora encontrara outro motivo para odiá-los. A única forma de lutar contra esta hostilidade era serem vistos, exigindo que o governo os olhasse como seres humanos para que tivessem assim o cumprimento dos seus direitos.  

Temos, então, Jill – personagem baseada em uma amiga pessoal de Davis – amiga e companheira de apartamento dos 3 protagonistas. Ela também vê sua vida afetada pela SIDA a medida que começa a assistir amigos definharem e morrerem em camas de hospitais sozinhos. Como resposta à dor, encontra no ativismo a forma de ajudar. Jill é um personagem que representa um daqueles que sobreviveram para contar a história. 

It’s a Sin é sobre um vírus e tudo que com ele foi alterado na vida das pessoas. É, acima de tudo, sobre a desinformação e o preconceito. “É uma série que percebe que a vida é muita coisa ao mesmo tempo. E é mais impactante ver a alegria a ser ceifada no seu ponto máximo”, diz a crítica Susana Romana ao Observador.

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Nathaniel Curtis como Ash Mukherjee, e Lydia West como Jill Baxter em "It's A Sin" Ben Blackall-HBO MAX