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Mundo

Pontivírgula

A partir daqui iniciou-se uma escalada militar na fronteira dos Himalaias. A verdade é que até então já haviam sido mobilizados quase 10 mil soldados chineses e vários batalhões de infantaria indianos para o local, mas as tropas e a implementação de bases militares intensificaram-se após aquele conflito mortífero no vale de Galwan.

É difícil apurar quem começou esta espiral armamentista e, atrevo-me a dizer, corrida ao poder, naquela que é a cordilheira mais alta do Mundo. A isto podemos chamar de Dilema da Segurança: ao aumentarem as tropas militares, será que estas Nações o fazem por defesa ou porque preparam um ataque? É esta dificuldade em interpretar o outro país que nos leva a um sentimento e sensação de desconfiança, suspeita e ameaça constante e, portanto, consequentemente, à necessidade de aumentar a nossa política de defesa.

Foi o que aconteceu entre a Índia e a China. Ao aumentarem as patrulhas, ao mobilizarem mais soldados e aviões militares ou, inclusive, ao instalarem mais tendas junto da fronteira, ambas as Nações viram-se obrigadas a reforçar o seu poder (militar), dia após dia, como de uma jogada de um jogo de xadrez se tratasse – até que um dos jogadores acabasse por desistir (ou conseguissem chegar a acordo).

Por vezes diz-se que um jogo de xadrez pode durar horas, mas este, por ser jogado à escala internacional, durou meses, talvez, porque as jogadas iam para além da esfera militar e entravam no domínio diplomático e económico: a China começou a aprofundar as suas relações diplomáticas com o Paquistão – inimigo histórico da Índia – e, por sua vez, a Índia começou a reduzir os seus laços económicos com a China e a demonstrar o seu apoio ao Tibete – região autónoma ocupada pelo China.

Apesar disto, por fim, o jogo de xadrez pode estar perto de terminar. No início deste mês, as duas Nações estabeleceram um acordo que acabará com a escalada militar na região. Segundo o Ministro da Defesa Indiano, Rajnath Singh, a retirada das tropas militares começou nas margens norte e sul do Lago Pangong Tso, mas há ainda “algumas questões pendentes em relação à implantação e patrulhamento em alguns outros pontos ao longo da Linha de Controlo Atual (LAC) no leste de Ladakh” 1 e, portanto, a discussão, privilegiando os canais diplomáticos, entre Nova Deli e Pequim manter-se-á.

Num Mundo dominado pelas relações internacionais, pelo diálogo e pela cooperação, há a esperança de que estes conflitos possam ser resolvidos pela via da diplomacia e, nunca, pela guerra ou morte de homens inocentes – afinal, “a guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam, se matam, por decisões de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam”. 2 No entanto, tal leva-nos a uma questão: como é possível que a política internacional, baseada num clima de tensão e ameaça constante, não seja sempre um estado de guerra aberta?

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O confronto do Vale de Galwan

foi dos mais violentos na

fronteira entre os dois lados

dos últimos 45 anos.

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