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Por Ana Catarina Pinheiro

As eleições presidenciais aconteceram no passado dia 24 de janeiro e os resultados são devastadores para todos os que defendem a democracia e a liberdade. Não podemos cantar vitória pelo segundo mandato do professor Marcelo Rebelo de Sousa ou pela ex-deputada Ana Gomes ter ficado em segundo lugar quando a extrema-direita provou estar viva na nossa sociedade.

Sem nenhuma novidade, o professor Marcelo ficou em primeiro lugar com maioria absoluta, vencendo em todas as freguesias portuguesas. A grande questão envolvia os segundo e terceiro lugares. O que me entristece, uma vez que a extrema-direita teve o protagonismo que desejava durante toda a sua campanha.

Ana Gomes, a candidata socialista, pela democracia e liberdade, laica, ficou em segundo lugar, sendo a mulher mais votada na história de Portugal com mais de 540 mil votos. Contudo, apesar deste feito, foi André Ventura a ficar com os louros, porque, e lamento dizê-lo, é a personagem que mais audiências dá aos meios de comunicação. 

É triste perceber que a extrema-direita está viva e não tem medo de se mostrar. Têm o seu líder que sabe como falar para com eles, sabe interromper os restantes candidatos, que mente descaradamente e grita quando percebe que está encurralado. 

Ana Gomes, a candidata socialista, pela democracia e liberdade, laica, ficou em segundo lugar, sendo a mulher mais votada na história de Portugal

Em relação à esquerda, é

visível a necessidade de o PCP e do Bloco de Esquerda se reformarem e atualizarem. João Ferreira ficou longe do terceiro lugar e viu o Alentejo comunista voltar-se para a extrema-direita. e Marisa Matias obteve um resultado pior do das eleições presidenciais de 2016. Por outro lado, Tiago Mayan Gonçalves teve um resultado que agradou os liberais e Vitorino Silva, apesar de ter ficado em último lugar, mostrou-se um candidato íntegro e humilde (todavia, obteve menos votos que em 2016). 

Para piorar estas eleições, temos a questão da abstenção. Como é óbvio, se Portugal está a viver uma terceira vaga da pandemia da Covid-19, haverá pessoas receosas de sair de casa. Para não falar das pessoas confinadas que não puderam votar após o dia limite das inscrições para voto antecipado.

Em relação à esquerda, é visível a necessidade de o PCP e do Bloco de Esquerda se reformarem e atualizarem

Mas não foi, somente, o governo que falhou nestas eleições. Como bem sabemos, se algo define os portugueses é o facto de falarem muito e ficarem em casa quando a democracia chama por eles, tal como é visível nas eleições pré pandemia, sejam presidenciais, legislativas ou europeias.  

Para cada pessoa que não vota, há outra a votar e a história mostra-nos que nunca devemos negligenciar os nossos direitos, pois se não lutarmos por eles mais ninguém lutará. Os resultados mostram isso mesmo. 

Aproveito para destacar outra questão: o interior. O facto de André Ventura ter-se destacado no interior e Alentejo deve-se, no meu entender, a uma questão muito simples: estas regiões sentem-se negligenciadas e cansadas do centralismo lisboeta. O facto de que os meios de comunicação as marginaliza, bem como o governo, pode ter sido um fator preponderante Se olharmos para estas gentes com outros olhos, dando-lhes atenção e ouvindo-as, acredito que os resultados possam ser outros. 

Em suma, estas eleições mostram a divisão ideológica que reina em Portugal e deixa claro que a extrema-direita tem força e deve ser combatida. Não há melhor forma de a combater do que votar, pois a democracia chama por nós em nome de todos os que morreram na luta pelo voto universal e por todos os que morreram durante os 48 anos de ditadura, a maior da Europa.

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A Democracia chama por nós: Eleições Presidenciais

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